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| Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro | |
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Autor | Mensagem |
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| Assunto: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro novembro 15th 2012, 15:31 | |
| Mais um Português a dar uma volta ao Mundo, esta na Turquia por estes dias "Agri Hoje tive um dia calmo e fiz mais de 400 Km numa estrada com longas rectas, onde me senti o Peter Fonda no “Easy Rider”, a circular a 120/130 só que sem estar pedrado. Pelo meio duas partes montanhosas com algumas curvas boas e onde a temperatura baixou dos 8 a 12º com que circulei a maior parte do dia, para 5º. A paisagem continuava árida, a fazer lembrar certas zonas de Marrocos. Pelas duas da tarde parei numa tasca manhosa, junto a uma bomba de gasolina, onde comi qualquer coisa que tinha um ovo estrelado e era picante, não sei se por o ovo estar estragado ou se era mesmo assim. De qualquer forma não me fez mal. Bebi uma Fanta laranja, a segunda bebida oficial dos Turcos. A primeira é o chá que, tal como no sul do Brasil com o café, oferecem a cada oportunidade “free of charge”. Depois daquele almoço, para desenjoar parei na bomba seguinte e comi umas bananas que tinha no saco desde o dia anterior, das quais consegui aproveitar três metades menos podres. O homem da bomba convidou-me para beber um chá e lá fiquei a tomar chá à conversa com um camionista durante uma meia hora. O engraçado é dizer à conversa porque ele só falava turco e eu ia dizendo palavras em várias línguas conforme a que me apetecesse no momento. Era indiferente o que era porque ele não percebia nenhuma. É espantoso como há três dias que não encontro ninguém que fale outra coisa senão turco e tenho-me feito entender. Na conversa com este simpático camionista ele perguntou-me de onde eu era e depois se falávamos a mesma língua que os Espanhóis e os Mexicanos, que países havia a seguir a Portugal, etc. Falámos sobre o frio que eu ia apanhar no Irão, sei lá, uma longa conversa baseada em gestos, palavras inventadas e expressões com que nos fizemos entender perfeitamente. Apareceu outro amigo a quem ele lhe disse de onde eu era e por fim despedimo-nos e cada um partiu na sua direção. O transito por ali é quase só camiões e como estamos perto da fronteira com o Irão e não longe da fronteira com a Síria começam-se a ver mais veículos militares que carros de polícia e passei mesmo por uma operação “stop” em sentido contrario ao que eu circulava que era feita por militares de metralhadora ao ombro e não por policias. Provavelmente também para controlarem as movimentações dos rebeldes curdos do PKK. Amanhã vou tentar entrar no Irão mas o mais provável é ainda não ser possível. Nesse caso terei que voltar a uma cidade a 300 Km da fronteira onde há um consulado Iraniano, para pedir os papéis que me exigirem. Se entrar só espero que os Americanos ou Israelitas não se lembrem de bombardear o país na semana em que lá estiver. Não que tenha medo de levar com uma bomba, que é pouco provável, mas receio que se isso acontecer o pessoal lá fique com mau humor para com quem vem deste lado. Está-me a pingar água em cima do computador. Estes hotéis que eu arranjo ... Há bocado, para explicar que não havia toalhas na casa de banho fiz sinal ao recepcionista como se estivesse a esfregar as costas mas ele deve ter pensado que eu estava a pedir um banho turco ou qualquer coisa do género. Fez uma careta como quem diz “não temos cá disso” e falou para uma miúda que era suposto falar inglês mas ... bute, não percebia nada. Até que ela disse: “então eu vou aí ao Hotel dentro de 5 minutos. Quando chegou mostrei-lhe o toalheiro vazio e então resolveu-se o enigma. O camionista teria percebido à primeira. Expandir esta imagem Ver em tamanho real |
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| Assunto: Re: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro novembro 15th 2012, 15:32 | |
| Erzingan Ontem à noite fiquei numa pequena cidade de província, que não são nada atrativas, e hoje arranquei pelas onze da manhã rumo a Oriente. O céu estava pouco nublado e a temperatura mais estável que ontem, entre os 8 e os 12º que, com o fato da Sidi, é agradável. A estrada era em piso que variava entre o bom e o razoável, com grandes rectas e muito pouco movimento. Talvez por a gasolina aqu i ser das mais caras de europa, perto de dois euros por litro, e a população ter pouco poder de compra, a maioria dos turcos deve viajar em transportes públicos e reservam os carros só para circular em cidade. Não sendo produtores de petróleo têm que o comprar aos vizinhos árabes e como o governo tem feito um esforço para se aproximar do Ocidente, chegando ao ponto de quererem insistentemente entrar para a Comunidade Europeia, quando só 30% do seu território é na Europa, os Iranianos e outros vizinhos não devem gostar da atitude e vendem-lhes o petróleo mais caro, mesmo se ele é aqui refinado. Circulo largas dezenas de quilómetros a cruzar-me com meia dúzia de carros numa paisagem muito árida de pequenas elevações. Algumas vilas pelo caminho sempre com a imprescindível Mesquita com duas torres altas e estreitas de onde antes o imã local devia gritar para a população as rezas constantes, agora transmitidas através de potentes altifalantes que, nas cidades que têm duas ou três Mesquitas fazem concorrência entre si na captação de fiéis. Aliás não devem ter falta de clientes porque 97% da população é muçulmana e a maioria parece praticante assíduo. Também nestas pequenas vilas não deve haver melhor programa do que ir até à Mesquita rezar um pouco. No Hotel em que estou agora estava até um pequeno tapete dobrado em cima da mesa, do tipo tapete Persa individual feito na China, com uma espécie de terço deles por cima para se eu quisesse rezar quando ouvisse a voz do Imã nos altifalantes da Mesquita. O terço é diferente do dos católicos pois quase todas as contas são idênticas e estão juntas. Não me admira porque a reza deles parece-me muito repetitiva. Não têm aquela coisa de rezarem 10 Avé Marias e depois um Glória a Deus seguido de um Pai Nosso, etc. Aqui é sempre abdaluuuuuuuu la luuuuuu la luuuuuuu abdaluuuuuu. Almocei num restaurante simpático e giro, saído do nada, com um carocha pendurado na entrada, e fiquei um pouco a ler ao sol antes de arrancar, para meia dúzia de quilómetros depois ser apanhado por um radar, que ali devia estar só para mim. Ainda pensei que como naquela parte do país a vida era mais barata as multas acompanhassem o nível de vida mas não. 154 Coroas turcas, ou seja 70 das nossas. Não veio nada a calhar. Quando chegou o fim da tarde parei na primeira vila que encontrei para procurar um Hotel. A povoação tinha um ar sinistro mas entrei até à praça principal e única, com o pavimento escavacado, depois de atravessar uma ponte sobre um rio muito poluído a passar ao lado de prédios decrépitos a rodearem um supermercado novo. Quase toda a vila parou para ver este homem de moto com um fato estranho. Aliás não me admira porque a única moto que vi nos últimos três dias foi a minha. Voltei a ter uma conversa que já se tornou habitual. Quando eu pergunto: “Do you speak English?” respondem-me invariavelmente “No. Do you speak Turkish?” E por ali ficamos. Perguntei a um rapaz por um Hotel que por acaso se diz Otel em Turco, e ele apontou-me um prédio com a largura de cinco metros na eminência de cair. De início pensei que estava a gozar mas logo surgiu um velho que perguntou: “Hotel?” E pôs-se a correr à frente da moto a fazer sinal para o seguir. Segui-o sem nenhuma vontade até um beco em terra batida polida por óleo e lixo calcados até às traseiras do dito prédio. Agradeci-lhe muito mas para seu desconsolo dei meia volta e voltei à estrada. Ficou noite e entrei numa serra onde a temperatura baixou para os 5º, que é o limite do desconfortável, mesmo com o aquecimento dos punhos ligado. Para agravar a situação a estrada a meio estava em obras e passei para uma estrada de terra, felizmente só por dois quilómetros. 70 Km depois cheguei a uma cidade mais decente e encontrei um Hotel possível, com tapete de reza e terço muçulmano à minha disposição, em vez da habitual Bíblia. |
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| Assunto: Re: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro novembro 19th 2012, 03:00 | |
| - silver_bullet escreveu:
- Falta o relato
óh meu caro amigo cá esta ele...... Urmia
Ontem à noite, depois de ouvir aquela discussão política entre três amigos fui almoçar a uma tasca a uns 200 metros daquele Hotel que tinha uma vista fantástica sobre o lago mas as cortinas do restaurante fechadas, mesmo durante o dia. Por um lado não admira porque quando as abri o jardim sobre o lago estava com chapéus de sol podres no chão e lixo por todo o lado. O criado da tasca, que não dizia uma palavra de inglês, perguntou-me, no fim do jantar, como todos fazem, se queria um chá. Respondi que sim e então, com a maior das naturalidades, trouxe dois e sentou-se à minha mesa a tomar chá comigo. Não dissemos nada um ao outro mas ele achou que fazia parte beber um chá com o cliente. Hoje saí às nove e meia com intenção de tentar passar a fronteira à hora de almoço. A estrada variava entre grandes rectas bem alcatroadas até troços muito ondulados e outros em reparação, com partes em gravilha. A cerca de 150 Km da fronteira uma situação curiosa: estão a montar um oleoduto em direção ao Irão com quilómetros de tubo com cerca de metro e meio de diâmetro estendidos ao longo da estrada e outros já colocados. No entanto, hoje em dia é proibida a importação de petróleo do Irão, uma sanção estabelecida pelas nações unidas. Será que estão a montar este oleoduto já a pensar que a sanção vai durar pouco ou que estão à espera que os Americanos ataquem o Irão e fiquem eles a controlar a exploração petrolífera, como fazem no Iraque? Mais à frente a primeira de várias operações stop feitas por militares. Nesta estavam a revistar todos os carros dos convidados de um casamento enquanto o carro da noiva, parado cem metros à frente, já tinha sido visto e esperava que todos os convidados recuperassem o seu lugar na caravana. Aliás hoje, não sei se por ser domingo, passei por várias caravanas de convidados de casamento com o carro da noiva à frente, decorado com fitas não brancas mas coloridas, não sei se com as cores da bandeira curda. Estas caravanas que são formadas por muita xarutada e duas ou três Ford Transit que transportam os convidados sem carro, levam por vezes uma pick up à frente com vários homens na caixa de carga a filmarem ou tirarem fotografias. Quando ultrapassei uma das caravanas estes homens da pick up fizeram-me sinal para esperar mais um pouco atrás deles e assim vou fazer parte do filme de um casamento curdo. Mais à frente os militares de outra operação stop mandaram-me parar só para saberem de que nacionalidade era e para onde ia. Na ultima cidade antes da fronteira alguns deste militares faziam a operação stop vestidos à paisana, de metralhadora na mão. Até pensei que fossem revolucionários mas não, na fronteira disseram-me que se fossem revolucionários já estariam presos. Cheguei à fronteira no meio de uma confusão de camiões e carrinhas Ford Transit, que aqui são o transporte mais utilizado nas deslocações entre cidades. Formavam um tal caos que, ao passar por eles, não percebi que tinha atravessado o lado turco da fronteira sem parar na polícia ou alfandega. Já estava em território iraniano quando um guarda turco me chamou, do lado de fora, a dizer para eu voltar atrás com a moto e cumprir os trâmites. Dei meia volta e ele destacou um miúdo dos seus 12 anos que foi comigo, a correr ao lado da moto, aos vários postos de controle. Lá resolvemos a situação naquela alfândega decrépita e passei para o lado iraniano. Aqui, depois de me revistarem as malas mandaram-me falar com o chefe que, embora eu já tivesse o selo do visto, iria analisar novamente o meu processo para ver se me dava ordem de passagem. Um soldado levou-me por entre o povo até ao gabinete do chefe. Era um miúdo que não teria trinta anos. Mandou-me sentar numa cadeira afastada uns 5 metros da dele, olhou para o meu passaporte e passou meia hora ora a colocar o passaporte numa máquina de laser, ora a consultar o computador ora a olhar uma vez mais para o Passaporte. Fez-me poucas perguntas e deu sempre o ar que estava a hesitar deixar-me entrar. Por que cidades pretende passar? Porquê? Passada meia hora mandou o ajudante carimbar o passaporte e passou-mo para as mãos. Quando estava convencido que podia partir com a moto surge outro chefe, este responsável pela entrada de veículos, que me disse logo que não havia qualquer hipótese de passar com a moto sem Carnet. Resultado: a moto ficou na fronteira à espera da chegada do Carnet e eu segui até uma cidade próxima com um rapaz de quem me tinham dado o contacto. |
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| Assunto: Re: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro novembro 19th 2012, 17:21 | |
| - silver_bullet escreveu:
- não falta ai uns episódios?
Claro que sim, sabes vou completando isto aos poucos, e o que pretendo é apenas manter o pessoal mais ou menos informando, porem, o Francisco tambem não tem nenhum site onde va colocando a informação detalhada dai que o que eu vou apanhando é o que ele vai colocando no facebook, dele e da Honda Olha a Honda Motor de Portugal é que podia ir mantendo a malta mais informada |
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| Assunto: Re: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro dezembro 8th 2012, 14:02 | |
| Ontem fui visitar o principal Mercado de Teerão, a que eles chamam Bazar. O Bazar tem várias entradas que dão para uma avenida cortada à maioria do trânsito e é um emaranhado de pequenas ruelas cobertas que não têm mais de três metros de largura onde se vende de tudo. Embora quando entramos pareça uma confusão, está bem organizado pois tem uma parte de joalharias, onde mulheres vestidas de mantos pretos se perdem durante horas hipnotizadas pelo ouro e pedras preciosas e falsas, outra parte só de roupas, uma de frutas e especiarias, outra de electrodomésticos e por aí fora. Cada secção tem largas dezenas de pequenas lojas, algumas pouco mais que bancas com dois ou três metros quadrados. Está sempre cheio de gente pois é aqui que os locais da classe média e baixa fazem as suas compras e deve ser o único sítio onde o trânsito é proibido às motos, que se habituaram a circular nos passeios, nas faixas contrárias, a passar sinais encarnados, enfim temos a sensação que quem tem moto pode fazer o que quer. São milhares destas 125 a 4 tempos, todas muito parecidas, mas de dezenas de marcas diferentes, que parece terem conquistado a cidade. Temos a sensação de que mesmo que os decidissem pôr na ordem já era impossível porque não haveria polícias em todo o país para lhes acertar o passo.
Hoje fui tratar de renovar o meu Visto, que se veio a revelar tarefa complicada. Andar com visto caducado no Irão representa prisão. Ouvi dizer que as prisões aqui não são nada acolhedoras de maneira que fui ao local que me indicaram em Teerão para tentar renová-lo, pois caducava dentro de dois dias. Não pude sair antes do país porque só amanhã deve chegar o Carnet de Portugal que me permitirá ir levantar a moto à fronteira para seguir viagem. Quando cheguei à esquadra da polícia onde tratam deste assunto começaram por me perguntar porque queria ficar mais tempo no país e se não tinha um avião para apanhar. Quando lhes digo que venho de moto olham sempre para mim com um ar de como quem diz: “mas o homem até que não tem cara de maluco” e começam a observar melhor a minha expressão como que à procura de algum traço que comprove a teoria deles, de que o rapaz não joga com o baralho todo. Esperam um pouco nesta observação e só depois voltam a falar. “Haaaa, veio de moto. Está bem. Já vamos tratar do seu caso. Espere sentado nessa cadeira”. Passado um quarto de hora mandaram-me comprar uma pasta em cartolina, como me lembro de ter na primária, dois impressos, fotocópia de passaporte e cópia de depósito de 300.000 reais (qualquer coisa como 11 euros) numa conta bancária do estado. Estava aberto o processo. Voltei passada meia hora com depósito feito e tudo o resto preenchido. Entreguei o processo a uma menina que me mandou voltar a sentar na cadeira. Um quarto de hora depois fez-me sinal e indicou-me um colega fardado com quem deveria falar. O homem gentilmente disse-me para voltar amanhã de manhã. Pedi-lhe por favor que resolvesse o problema hoje porque tive medo que ao deixar passar um dia o processo pudesse emperrar definitivamente e o meu visto acabar entretanto. Disse-me que ia ver o que podia fazer e entregou a papelada, acompanhada de uma ordem, a um rapaz mais novo que seguiu com ele para dentro do escritório. Passado outro quarto de hora o rapaz saiu lá de dentro com o processo que entretanto já trazia apensa uma folha A4 totalmente escrita à mão, que me deixou apreensivo. Que raio de testamento teriam eles a dizer sobre mim? Pediu que o seguisse até ao gabinete do chefe. Fiquei assustado. Tinham-me dito que isto era um processo relativamente simples e agora precisava de visitar o chefe? Subimos num estreito elevador quatro andares até ao último piso. O rapaz mandou-me esperar numa sala onde em vez de velhas “tv guia” e “caras” tinha uma única revista com o Iman Khamenei na capa. Passados dois minutos saiu do gabinete do chefe, a quem tinha entregue o meu processo, e uma secretaria também vestida com estes mantos pretos, em que parece que recortaram uma cara de uma revista e a colaram sobre o preto, sem que se veja um único cabelo ou pescoço, mandou-me entrar à frente dela para o gabinete do chefe. Enquanto a rapariga fazia de tradutora o homem perguntou-me porque queria visitar por mais tempo o Irão, em que cidades tinha estado nos últimos quinze dias, que outras iria visitar nos 15 dias em que pretendia estender a minha estadia, em que países tinha passado antes de chegar ao Irão e por aí fora. Por fim, ficou muito intrigado por eu ter um carimbo de Marrocos no Passaporte. Quando eu, já baralhado, não percebia se aquilo estava a correr bem ou mal o homem sai-se com esta: - “Fale-me sobre Fátima” - “Fátima?! Mas, Fátima, Fátima? - “Sim, fale-me sobre Fátima”. Fiquei embasbacado. Fátima? Quando aqui digo que sou português normalmente debitam-me uma quantidade enorme de nomes de jogadores e treinadores de futebol, a maioria dos quais mal ouvi falar, agora de Fátima nunca ninguém me tinha falado. Ainda puxei pela memória para ver se haveria algum jogador que se chamasse José de Fátima ou qualquer coisa parecida mas não. O Homem queria mesmo que eu lhe falasse de Fátima. Bem, tentei recordar o que me tinham ensinado na catequese quando tinha seis anos, fiz uma cara de anjo e contei a história dos três pastorinhos como se de um filme cheio de luz e estrelas se tratasse. Descrevi os três pastorinhos tranquilos a levarem o seu rebanho, nossa senhora a aparecer no céu cheia de luz e brilho, uma mulher linda que falava com uma voz meiga e doce para aquelas três crianças. Enquanto contava isto fazia gestos, abria os braços para mostrar a grandiosidade do acontecimento. O homem olhava para mim espantado, quase emocionado, como se estivesse a viver as sensações de Jacinto. Por fim contei-lhe que de início ninguém acreditou nos três pastorinhos e eles sofreram muito até serem considerados santos. O homem desceu à terra, recompôs-se na cadeira e disse: “sabe que na Síria se celebra o 23 de Março como dia de Nossa Senhora de Fátima?” Não fazia a mínima ideia. Depois acrescentou qualquer coisa ao que a tradutora me comunicou, como quem transmite a um aluno que teve 20 valores na prova oral: -“O meu chefe vai-lhe dar o visto para os quinze dias que pretende” Agradeci ao chefe e saí satisfeito com a minha performance. Como era possível eu, um ateu, ser salvo por Nossa Senhora de Fátima? Achei que Ela deveria estar a pensar: “vamos lá ajudar este rapaz que está ali perdido no meio dos filisteus, tão perto da minha terra e sem fé nenhuma”. Quando descíamos no elevador com o processo já assinado pelo chefe perguntei à rapariga porque se teria ele lembrado de Fátima ao que ela respondeu: “É que o meu chefe estudou muito Teologia”. |
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| Assunto: Re: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro dezembro 10th 2012, 00:55 | |
| - j luis escreveu:
O homem olhava para mim espantado, quase emocionado, como se estivesse a viver as sensações de Jacinto.
Hás-de-lhe perguntar quem era esse Jacinto! Brincadeiras à parte, muito bom relato, o homem sabe escrever! |
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| Assunto: Re: Volta ao Mundo de Francisco Sande e Castro dezembro 27th 2012, 16:42 | |
| Mumbai – 3 Esta miúda de oito anos chama-se Kali e foi quem me alegrou o Natal, ao vê-la pela manhã. Vive com a mãe e os irmãos no passeio, junto ao Hotel onde tenho ficado os últimos dias. Quando vou jantar os mais novos já estão a dormir, os três alinhados num cobertor estendido no chão. Aqui a Kali estava numa das suas tarefas diárias, a dar banho a um dos irmãos. Na outra fotografia mostra-me um desenho que exprime o seu habitual estado de espírito. É fantástico como esta miúda, que vive na rua, emana uma alegria contagiante. Nunca a vi sem ser a rir e bem disposta, seja quando brinca com outros miúdos na rua ou quando me levou até à porta de um Hotel depois de me ter visto procurar um bar na rua que tinha música e estava fechado. “Aqui há boa música que eu oiço, vinda do terraço do ultimo andar”. Às vezes vamos comer um gelado ao fim do dia que ela adora mas muitas das vezes leva-o, sem lhe tocar, para o dar à mãe. Mesmo quando faz um ar amuado por eu não lhe comprar as flores que a mãe andou durante o dia a arranjar em ramos lindos, mantem uma alegria na cara que não se vê na maioria das crianças que têm o que pensamos serem todas as razões para se sentirem felizes. A Kali é o exemplo vivo de que não é o dinheiro que traz felicidade. É o amor que recebemos e transmitimos a quem nos rodeia. |
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