A MOTOCICLISMO acaba de receber a confirmação por parte de Miguel Praia que, o experiente piloto que fez parte do projeto Parkalgar até ao final da temporada passada do Mundial de Supersport, já tem os seus planos definidos e confirmados para 2012.
Miguel Praia estará presente no Campeonato Espanhol de Velocidade na categoria Moto2, onde será inscrito pela equipa Harris Perfomance, estrutura com grandes aspirações (para o presente e futuro), mas Praia não esquece os seus sonhos…
Durante a Expomoto, Miguel Praia já tinha o seu futuro praticamente acertado, mas alguns pormenores impediam a confirmação a 100%. Durante a maior exposição dedicada ao motociclismo em solo nacional, a MOTOCICLISMO realizou uma entrevista ao piloto onde explicou como será o projeto Moto2, o que pensa encontrar nesta nova aventura e os projetos paralelos.
MOTOCICLISMO – A temporada passada foi complicado na Parkalgar. Já se antevia um início de 2012 complicado?
Miguel Praia – Sim, foi uma temporada bastante mais difícil, com umas condicionantes que eu não contava. A moto não estava tão competitiva e os resultados alcançados pela equipa não foram aqueles que alcançámos em 2009 e 2010, onde conquistámos dois vice-campeonatos de Supersport. Eu também tive uma pessoa nova (técnico), mas tudo isto se deveu às nossas dificuldades financeiras. Foi um ano já muito difícil de terminar e já se adivinhava aquilo que seria o anúncio do que se passou até esta parte.
Foi realmente confuso e a equipa teve de quase de “vulgarizar” ao ponto de ter mais pilotos que aqueles que estavam à espera, para conseguir a verba necessária para terminar o campeonato e essa foi uma das razões para a equipa perder competitividade, embora eu penso que, sinceramente, andei melhor do que no ano transato. Tive corridas em que andei mais perto dos lugares da frente, algumas em que no final da corrida andei a 8 segundos do líder. Mas o número de pilotos que andou a lutar pelos primeiros lugares era muito maior, e isso acabou por me dificultar e o resultado final não espelhou aquilo que eu queria.
Não treinámos com estas condicionantes todas, especialmente a falta de verbas, que quanto a mim acabou por ser o principal fator para esta perda de competitividade geral da equipa.
M – Ainda tentaram no final do ano viabilizar o projeto Parkalgar como equipa a tempo inteiro no Mundial de Supersport?
MP – Tentámos, claro que sim. Para mim parece-me incrível como é que um projeto que tem quatro milhões de euros de retorno completamente comprovados, não consegue sequer um apoio de cinquenta mil euros em dinheiro! Isto demonstra que somos um País sem qualquer tradição num desporto motorizado, e isso cria-me muita confusão. Uma coisa é não ter retorno, outra é ter esse retorno quantificado e mesmo assim não conseguirmos os apoios. Isto acaba por ser um excelente negócio para uma empresa que investe 50.000€ e acaba por ter 100.000 ou 200.000 de retorno. Isto acabou por inviabilizar o projeto. Mais uma vez sabíamos que para o manter teríamos de aumentar o número de pilotos, e eu sinceramente não me disponibilizei para continuar o projeto naquelas condições. Por isso o caminho passava por procurar novas opções.
M – Só dentro da Supersport?
MP – Principalmente dentro das Supersport. Tentámos através de equipas mais fortes viabilizar o projeto Supersport,com a Ten Kate a tempo inteiro, estive na Holanda e a minha prioridade é manter-me com a Honda. Não foi possível o campeonato inteiro e vamos tentar fazer algumas corridas, mas ainda não sabemos quais, nem se realmente as vamos fazer. Isto é algo que ainda está por definir. É uma hipótese que não está confirmada mas dentro de algumas semanas saberemos mais alguma coisa. Sinceramente julgo que é o mais fácil de concretizar, um programa de três ou quatro corridas.
M – Então onde vais estar a tempo inteiro?
MP – Irei estar presente no Campeonato Moto2 em Espanha, como piloto oficial da Harris, uma equipa propriedade de alemães que estão sedeados em Valencia, que me escolheram a mim para ser piloto deles. A Harris já parceira técnica da Parkalgar, e assim que eu fiquei disponível a tempo inteiro, eles escolheram-me para ser o piloto deles para fazer o CEV Moto2, que é o campeonato que mais apostam, para além de fazer alguns Grandes Prémios.
Este projeto para mim se fosse só o CEV se calhar não teria tanto interesse, mas sendo a Harris também um projeto que conheço desde a sua nascença, devido à qualidade do chassis vai permitir andar muito, com alguns GP à mistura, sendo que esta equipa quer lançar-se para o Mundial Moto2 em 2013…
M – Essa é uma possibilidade para ti?
MP – É uma possibilidade. Estamos a falar nisso também, embora neste momento estejamos a viabilizar o projeto Moto2 no CEV, om alguns GP e também algumas corridas no Mundial de Supersport. Para já é apenas um contrato de um ano, apenas para esta temporada.
M – Como é que vês a passagem para um campeonato diferente, embora utilize motos com a mesma cilindrada e mesmo motor das CBR600RR?
MP – Vai mudar muito, pois o chassis tem realmente uma infinidade de soluções e escolhas, aspeto onde eu vou encontrar bastantes diferenças. A Honda CBR é uma moto que está perfeitamente evoluída, nós já sabemos quais o clicks e molas que tínhamos de escolher e usar devido ao tanto tempo de utilização deste modelo, e agora não, pois o chassis é totalmente diferente, e é isso que torna este projeto aliciante, tentar desenvolver a moto. A Harris é uma equipa relativamente recente, no ano passado acabaram por apenas ter uma equipa com o Kenny Noyes, e por isso também têm uma grande fome de títulos e resultados e querem desenvolver a moto.
M – Já sabes o que vais encontrar nas Moto2? Esperas a mesma agressividade em pista que existia nas SSP?
MP – O CEV é conhecido por ser o berço do Mundial, aliás, 75% dos pilotos que estão em categorias mundial participaram no CEV e isso é bem demonstrativo da qualidade deste campeonato. Não estou minimamente à espera de facilidades. Tivemos pilotos que saíram das Supersport, e até das Superbikes, e chegaram ao CEV onde encontraram muitas dificuldades derivado do chassis e isso é realmente uma grande condicionante. A par do motor, o chassis é a alma da moto e se não funcionar os pilotos não conseguem fazer nada. E como estamos a falar da nascença de um chassis, não sei o que vou encontrar. Agora o objetivo é claro: ser campeão de Espanha! É para isso que vou lutar… mas se vou ter meios para isso terei de ver. Queremos trabalhar e fazer muitos quilómetros para que, talvez não de início, mas para o meio do campeonato, consiga andar lá na frente com os outros, com uma moto da Harris muito competitiva.
M – Esperas uma adaptação complicada?
MP – Espero que não. Pelo que tenho visto os pilotos de supersport , tanto o Gino Rea agora em Valencia, como o próprio Kenan Sofuoglu, deram-se muito bem com as Moto2. Mas de um momento para o outro aquilo transformou-se de um “Paraíso num Inferno”! Eu acho que existem ali muitas possibilidades, especialmente ao nível do chassis, das equipas perderem a noção do caminho correto. Eu falei muito com o Eugene (Laverty) na altura em que ele testou a moto deles, assim que eles lançaram o primeiro chassis há dois anos, e ele gostou muito, mas o que ele achou que faltava à Harris era um piloto que fosse muito rápido para desenvolver a moto, algo que não aconteceu até aqui, pois têm estado sempre envolvidos de uma forma secundária. Portanto o Eugene acha que o chassis tem muito potencial, e isso para mim já é um descanso, porque o feedback dele é nesse aspeto tremendo. Mas muito do staff da equipa trabalhou comigo na Parkalgar, e são pessoas que eu sei que têm qualidade e isso para mim é importante. É que uma equipa faz toda a diferença. Eu acho que as grandes diferenças que existem nas Moto2 é a qualidade das equipas, aquelas que pegam num mau chassis e que o desenvolvem e tornam num bom chassis, isso faz toda a diferença.
M – O teu objetivo e aposta é apenas para ficar nas Moto2, ou o ingresso noutros projetos é algo que tens em mente?
MP – Existiram outras possibilidades para realizar campeonatos nacionais seja em Itália, França, Alemanha ou até em Inglaterra. Mas Moto2, tendo em conta o facto de manter-me com a Honda e a moto ser aproximada com a CBR600, e também pelo facto de existir uma boa ligação entre os irmãos Harris, dá-me mais confiança. Aqui o importante era manter o campeonato paralelo, e por isso não escondo que a minha prioridade é o Mundial de Supersport. Quero voltar a tempo inteiro às SSP, até porque, não quero desistir sem atingir um pódio, esse é o meu grande sonho! Enquanto não o conseguir realizar, irei lutar para que isso aconteça. Prefiro fazer quatro corridas com uma equipa muito forte, do que fazer uma temporada inteira mas com as limitações que andei todo o ano passado, em que com muita dificuldade lutei pelos oito primeiros.
É muito importante a questão das Moto2 pois vou fazer muitos quilómetros desde Março, mas o grande objetivo passa pelas SSP. Se Moto2 correr muito bem…
M – E vai correr!
MP - … (risos) sim vai correr! Bom, aí teremos duas saídas e isso depois será fácil de escolher, dependendo da qualidade dos meios e da equipa, mas vamos fazer o melhor nas duas situações, sem esquecer que para nós a corrida em Portimão (SSP) tem uma tremenda importância.
M – O Paulo Pinheiro e o Autódromo de Portimão continuam a ser o teu principal apoio?
MP – Neste momento nós não temos equipa, mas é óbvio que para o Autódromo Internacional do Algarve e especialmente para a Racing School, o nascimento do projeto quando começámos no Mundial de Superbikes e toda a minha participação, serviu para promover o autódromo e para trazer o Mundial de Superbikes para cá. Isso foi objetivo alcançado, mas claro que queremos manter um português em SSP ou até SBK, mas as supersport é o que está mais ao nosso alcance, não só para a empresa, como também para o Paulo e para mim, e por isso é para nós muito importante estar representados no fim de semana em Portimão.
Fonte:Motociclismo