Costuma calhar-me a mim fazer o relato do passeio, e este ano não foi excepção. Deixo aqui o texto e algumas fotos, o original está enorme pois tem muitas fotos, espero que gostem:
N222 E ROTA DOS CASTELOSMais um passeio, desta vez pelo norte do país, aos amigos do ano passado juntaram-se novos. Novos companheiros, novas experiências, e acima de tudo muita camaradagem, quilómetros de moto e boa comida.
No fim do passeio do ano passado onde percorremos a N2, ficou a promessa de revisitarmos o Douro e o norte do país. Assim o prometemos, assim o cumprimos. Preparativos feitos, percursos estudados e escolhidos, hotéis marcados e amigos confirmados. Aos cinco do ano passado juntaram-se mais cinco, o andamento pode não ser tão rápido mas a companhia é maior, a experiência que cada um trás é uma mais valia ao grupo e no fim das contas ganhamos todos.
Tivemos motos a estrear, gente com pouca experiência e veteranos nesta coisa das motos, tivemos um grupo internacional com dois amigos do Brasil e um Franco/Italo/Português, que se deslocou da bela zona da Catânia em Itália, para fazer este passeio.
Tentámos fazer sempre o percurso sem recorrer a auto-estradas, por vezes é preciso muita ginástica com os mapas e GPS’s, pois as indicações de estrada estão sempre a “empurrarem-nos” para as belas portagens.
Desta vez, saímos de Lisboa em direcção a Gaia/Porto, seguimos o rio Douro da sua foz até Foz Côa, descemos as Beiras, visitando os seus castelos, sempre com excelentes refeições e muita galhofa à mistura.
O que nos une? A paixão de andar de moto, conhecer novas paisagens e novas estradas, e a maravilhosa gastronomia local!
Para o ano há mais…!
1º DIA (LISBOA – GAIA/PORTO)No feriado do dia 21 de Junho, o dia nasceu ideal para passear de moto, a temperatura na casa dos 18 graus e um pouco nublado. Assim não teríamos o sol a fustigar-nos nem a chuva a estragar o passeio. Combinámos partir às 10h de Lisboa, junto do aeroporto.
Este ano a partida fez-se em dois grupos, um saiu de Lisboa e outro da margem sul do Tejo, de Alcochete. Combinámos encontramo-nos algures na N118, entre Samora Correia e Benavente, o grupo da frente andaria mais lento até o de trás se juntar. O percurso escolhido para a cidade Invicta foi através do centro do país, com paisagens mais bonitas e sem o trânsito que caracteriza a N1.
Passámos Almeirim, e na Chamusca voltamos para a Golegã, em direcção ao Entroncamento. Fizemos uma primeira paragem para descansar e comer qualquer coisa na vila de Atalaia.
Seguimos a N110, passando por Tomar, em direcção a Coimbra. Primeira boa surpresa do passeio, o trajecto é fantástico, a paisagem do centro é muito bonita nesta zona, e a estrada tem zonas de traçado fantástico para limpar a “goma” dos pneus. A meio do caminho apercebemo-nos que não teríamos tempo para ir almoçar um leitão à Mealhada, eram quase 14h, e a paragem do nosso primeiro grande almoço foi numa localidade de nome Barqueiro no concelho de Alvaiázere.
E foi aqui que nasceu a piada da “Confraria do Pudim”, devido à bela sobremesa que o restaurante tinha. Almoçámos bem, e principalmente foi a primeira vez que estivemos todos juntos à mesa, deu para conversar e conhecermo-nos todos um bocadinho melhor.
Seguimos viagem, com passagem, mas sem paragem, em Penela, mas que a mim me despertou curiosidade em voltar para conhecer. Abastecimento em Condeixa, e siga viagem. O resto do percurso até Gaia foi, à falta de melhor termo: chato. Entrámos na N1 e o trajecto foi feito de povoações com semáforos de velocidade 50Km/h e camiões TIR, carros em passeio domingueiro e azeiteiros, enfim, tomámos nota que numa próxima vez, na Mealhada entramos na A1 em direcção ao Porto!
Chegada a Gaia já ao fim do dia, check-in no IBIS, e após restabelecermos energias com umas cervejas na esplanada do hotel, foi hora da Francesinha.
Os mais atentos podem dizer: foram 10, mas só vejo 9 nas fotos! Bem, um dos companheiros só se juntou a nós no dia seguinte, mas isso é uma estória mais para a frente!
Chamados os Uber, as motos à noite não andam, não combina beber umas cervejas e conduzir! Lá fomos nós para o restaurante «Capa Negra II» em Massarelos, ter com as Francesinhas, entre outras iguarias, que nos aguardavam.
No fim, do repasto, uns foram descansar os ossos, que isto de conduzir o dia todo não mata, mas mói, os outros foram a pé até à Ribeira. E aqui friso bem: “a pé”, foi mais de meia hora a andar, mas valeu bem a pena.
Estávamos no fim de semana do S. João, e o Porto recebia os seus visitantes como só a Invicta o sabe fazer. A simpatia desta parte do país é algo que só se pode experimentar, explicar não se consegue.
Chegados à Ribeira, foi desfrutar da zona, beber um copo, sim um copo apenas, tirar fotos e seguir para o hotel que o cansaço estava a fazer-se notar. Chamar Uber novamente e lá fomos para Gaia.
2º DIA (N222 GAIA – TORRE DE MONCORVO)“Alvorada” às 08h, para o pequeno almoço, após breve troca de mensagens no WhatsApp para decidir se tomávamos no hotel ou mais para a frente, decidiu-se ser no hotel, era mais simples a logística. Arrancámos já passava das 09:30h, e tínhamos de encontrar o ponto de início da N222 na rotunda de Sto. Ovídio em Gaia.
Devido ao muito transito do início da manhã não conseguimos parar para tirar a foto da praxe, e para não estorvar mais as pessoas que iam para os seus trabalhos, fizemo-nos à estrada.
Os primeiros quilómetros da N222 são maioritariamente urbanos, Gaia, Avintes, Olival, Sandim e Canedo, depois entramos na zona “fantástica”, curvas e mais curvas, e a paisagem do Douro com algumas manchas de vinha a começar a despontar. Em Castelo de Paiva não pudemos entrar no centro da vila pois havia festa e as ruas estavam cortadas, tivemos de procurar uma alternativa para reencontrar a N222 que atravessa o centro e sai para norte.
Seguimos mais uma etapa até Cinfães, onde fizemos uma paragem à sombra na praça de táxis local, nesta altura o calor apertava e o desconforto dos equipamentos de segurança: casacos, botas, calças, luvas e capacete fazia-se sentir.
Retemperadas as forças, continuamos a N222, as paisagens vão ficando cada vez melhores, em cada curva uma nova paisagem do Douro recebia-nos, e só apetecia fazer mais e ver mais. Passamos Pias, Oliveira do Douro, e o rio sempre lá em baixo e ao nosso lado a acompanhar a nossa progressão. Serpenteávamos no alcatrão, ao olhar pelo retrovisor, avistava os faróis acesos dos companheiros como se fossem luzes de natal num presépio de montanha. O nosso andamento levou-nos até Resende, e nesta altura a fome começava a apertar, a nossa e a das motos, precisávamos de abastecer ambos, a Régua era o destino.
A meio do caminho entre Resende e a Régua, paragem para abastecer e para esticar pernas. Foi uma boa surpresa pois o posto de abastecimento tinha uma vista fantástica sobre o Douro.
Chegada à Régua pelas 14h, muito calor e muita fome, o almoço foi uma repetição do do ano passado, umas fatias de bola de carne e alguns enchidos. O suficiente para repor energias e recompor o corpo. No fim umas fotos na cidade, e siga.
Por esta altura, tínhamos notícias que o nosso companheiro já tinha saído de Lisboa e viajava para se juntar a nós nesta aventura. Combinámos ir mantendo o contacto para acertarmos o ponto de encontro, que, pensámos, seria já no alojamento de Torre de Moncorvo!
Saída da Régua em direcção ao Pinhão e Foz Côa, mas não sem antes passar na Barragem da Régua e a sua eclusa, onde conseguimos ver um dos barcos de passeio do Douro a subir a barragem.
Daqui até ao Pinhão a estrada é a “marginal” do Douro, sempre ao seu lado durante cerca de 20Km, onde a perspectiva é a oposta daquela que nos vinha a acompanhar desde o Porto, onde a estrada é a meia altura das encostas e, por vezes, mesmo no topo. Aqui vamos ao nível do rio, e as vinhas e as suas quintas são vistas de baixo para cima.
Chegados ao Pinhão a estrada começa o seu desvio do Douro, um prenúncio de que estávamos quase a terminar esta rota fantástica, e o rio e as vinhas faziam as suas despedidas.
Do Pinhão continuamos a N222 e agora começávamos a subir para a Ervedosa do Douro e São João da Pesqueira. O dia continuava quente, e quanto mais nos aproximávamos de Trás-os-Montes mais o tempo seco acompanhava e dificultava o andamento, parar para tirar fotos ou simplesmente apreciar a paisagem tornava-se difícil. Um dos inconvenientes de viajar de moto no Verão! Mas, mesmo assim, a meio do caminho descobrimos um local onde a vista, os cheiros e os sons mereceram uma paragem.
Continuamos viagem até São João da Pesqueira, onde fizemos uma pausa para hidratar, o calor apertava e o fim da etapa estava perto.
Verificámos por onde andava o viajante solitário, e se tudo corria bem para ele.
Resumimos caminho, após verificar os depósitos de cada um, foi fazer a última etapa do dia, íamos a caminho de Foz Côa e já não iriamos fazer a N222 até ao fim hoje, Almendra tinha de esperar mais um pouco.
Esta parte da estrada foi unanime entre todos, do ponto de vista motociclístico que foi das melhores, piso bom, estrada larga, curvas apertadas e …. falou-se em voltar atrás só para repetir!
Chegada a Foz Côa, por volta das 19h. Ao entramos na vila, tivemos de esperar por um dos companheiros que se tinha atrasado a meter combustível. Arrancámos em direcção a Torre de Moncorvo, onde iriamos pernoitar, e nas minhas contas, tínhamos tempo para chegar primeiro que o “viajante solitário”. Mas qual não foi a nossa surpresa, que quando nos aproximávamos da última rotunda de saída da vila, estava ele parado a consultar o GPS! Tinha chegado há 30 segundos! Nem combinado conseguíamos melhor “timing”. Uns a saírem do Porto de manhã, outro de Lisboa à tarde e encontramo-nos no sítio certo à hora certa. Foi uma festa, estávamos os 10 juntos!
A estrada que nos levou até Torre de Moncorvo, apesar do piso um pouco em mau estado, era muito bonita, passamos a eclusa do Pocinho e vimos a foz do rio Sabor, e em seguida foi sempre a subir até Moncorvo.
Já instalados na Quinta do Valbom e Cuco, limpos de pó, víamos o por do sol em Trás-os-Montes , e decidíamos onde iria ser o repasto, e principalmente como iríamos até lá. Mais uma vez, de moto estava fora de questão, e estávamos a 3km do centro de Moncorvo.
Tentámos chamar táxis, pois eramos muitos, e teriam de ser vários, ou o mesmo a fazer vai-vem, mas ninguém atendia! Resolveu-se o problema com um contacto de um táxi de 9 lugares. Já passava da 21:30h quando este chegou, e mesmo assim estávamos com um problema, o carro levava 9 e nós eramos: 9! Um dos companheiros apesar de veterano de muitas “guerras” de moto, estava exausto, e decidiu ficar a descansar. O motorista, que era uma era uma senhora não se deixou ficar e disse logo: - “entrem e não tenham problema, a mim não me mandam parar”. Escusado será dizer que foi um fartote de rir essa pequena viagem, e com a garantia de nos vir buscar às horas que quiséssemos!
O jantar foi bom, já tínhamos comido melhor, e a espectativa com o local era grande, mas a companhia foi excelente, e no fim de tudo, isso era o mais importante.
O centro de Torre de Moncorvo estava em alvoroço, a chegada do Verão era festejada com a Festa do Solstício, e o DJ era o conhecido Fernando Alvim. Ficámos um pouco a aproveitar a quente noite com que fomos brindados, numa esplanada e por volta da 01h chamámos a nossa “motorista particular” e fomos descansar, que o dia seguinte traria mais passeio e quilómetros.
3º DIA (TORRE DE MONCORVO – BELMONTE)Amanhecer no campo, sem um único som a não ser os da Natureza, revitaliza e dá energias para os quilómetros que nos esperavam.
Aqui, não tínhamos pequeno-almoço, pois estávamos em alojamento local, por isso foi carregar as motos e seguir para Foz Côa, para encontrar um sítio simpático para comer. Despedimo-nos da companhia da quinta e regressámos pelo mesmo caminho do dia anterior.
No centro de Foz Côa encontramos uma pequena pastelaria onde tomámos o pequeno-almoço e causámos alvoroço, com as 10 motos a entrar pela pequena praça a dentro.
Dirigimo-nos em seguida para o Museu do Côa, que tem uma vista fantástica sobre a foz do rio Côa que desagua nas águas do Douro. O edifício é imponente, e está bem enquadrado na área.
Não perdemos muito tempo, pois já era bastante tarde, e tínhamos de começar a nossa Rota dos Castelos, e ainda não tínhamos acabado a N222.
Após as fotos da praxe, seguimos em direcção a Almendra, onde termina uma das mais bonitas estradas do mundo.
A viagem até Almendra foi como o resto da N222, um sonho de estrada, sendo que nesta zona o piso está excelente e a estrada bem mais larga, o que nos permitiu rolar um pouco mais depressa.
Chegámos a Almendra cerca das 11h, não conseguimos foi tirar foto no último marco quilométrico da N222, pois passámos por ele e não o vimos?!
Em Almendra, no fim da N222.
Fim da primeira parte do passeio, se até agora o caminho era sempre percorrendo a mesma estrada, ou assim o tentávamos fazer, a partir de agora era unir pontos no mapa, entre os castelos da Beira Alta e Beira Baixa.
O dia estava quente e mais uma vez as paragens tornavam-se complicadas, deixámos Almendra para trás e definitivamente as paisagens do Douro, com as suas encostas e escarpas, fomos entrando em planícies de tons mais dourados, com algumas matas de pinheiros a despontar e a dar uns pontos verdes para contrastar. Já rolávamos com mais entrosamento, quando entrámos em Figueira de Castelo Rodrigo. O castelo propriamente dito, não era o nosso objectivo, pois fica um pouco fora de mão, após breve troca de palavras para decidir o que fazer, seguimos caminho em direcção a Almeida. Não sem antes parar para abastecer as motos e beber umas águas, planear o almoço para a próxima paragem. Chegados a Almeida foi estacionar as motos no largo da fortificação, e procurar um restaurante.
Ficámos pelo “Talmeyda”, era um sítio simpático e ficámos com a pequena sala só para nós. Apesar de se terem esquecido de alguns pratos e de ser o primeiro dia de trabalho da senhora que nos atendeu, ou assim parecia, no fim correu bem. Deu para por música, conversar e descansar. O que vale é que as nossas refeições, por menos boas que sejam, têm sempre diversão e camaradagem de sobra para colmatar o resto. Fim do repasto, e planeada a rota, seguimos viagem. Próxima paragem Castelo Bom.
Aqui foi toca-e-foge, o castelo é bastante pequeno, umas ruínas, e, o acesso era feito em estrada de “castelo”, muito empedrado e a subir. Após alguma troca de impressões em breves minutos arrancámos em direcção a Castelo Mendo.
A estrada seguia bastante sinuosa, perfeita para andar de moto, atravessamos o rio Côa, que seguíamos desde Foz Côa. O calor apertava, e passados 10 minutos estávamos em Castelo Mendo, até aqui as distâncias entre os pontos de paragem eram curtos.
A localidade foi uma surpresa bastante agradável, parecia saída da Guerra dos Tronos. Toda muralhada e muito bem conservada, parecia que a qualquer instante iriam aparecer cavaleiros medievais e os respectivos “dragões” num combate pela posse da aldeia.
O castelo propriamente dito, parecia mais um mosteiro! Onde apenas as paredes se mantinham de pé, datado algures entre o século XII ou XIII.
Fim da visita, rumámos em direcção ao Sabugal, seguindo a estrada N324. Trajecto um pouco mais longo, o que permitiu desfrutar bastante da paisagem da Beira. Passámos junto às Termas do Cró, local que recomendo para uma escapadela com as caras-metade. Esta zona da Beira Alta é bastante verde, pois tem bastantes rios e cursos de água. Chegados ao Sabugal, fomos directos ao castelo. Pelas ruas estreitas da vila e sempre a subir, lá chegámos.
Estacionadas as motos no largo do pelourinho, dirigimo-nos ao castelo, e para nossa surpresa a entrada era paga, 2€ por pessoa! Após conversa com a menina da bilheteira, ela explicou que devido a problemas de vandalismo tinham começado a cobrar entrada. Assim sempre faziam alguma triagem.
Nova conferência, decidimos não entrar, pois passava das 16:30 e ainda tínhamos de passar em Sortelha, onde tínhamos decidido ficar mais tempo. E pagar para apenas tirar umas fotos no interior, sem subir à torre, ou ver o museu, não fazia sentido! Seguimos caminho em direcção à Sortelha.
Saídos do Sabugal, reparei numa placa que indicava o nosso destino, apesar de não ter essa estrada no mapa, arrisquei. E foi espectacular, pois não só o trajecto foi muito mais curto, como passámos no cimo dos montes, mesmo ao lado dos parques eólicos, onde a paisagem era até onde a vista alcançava.
A localidade de Sortelha está entre muralhas, no topo de um monte de apenas um acesso. A visita vale muito a pena, assim como um tempo para passear nas suas ruelas, trepar ao cimo das muralhas e subir ao castelo. A calma e o sossego que se encontram aliados aos cheiros e vista, são de cortar a respiração.
A história que transpirava nestas paisagens, e nas ruas de Sortelha, eram um tónico para a mente e corpo. O tempo parecia quase parar.
E com o fim do dia a aproximar-se, bem como o nosso destino final, Belmonte, colocámos as motos a trabalhar por uma última vez nesse dia. O caminho foi curto, e a descida de Sortelha para Belmonte trouxe mais uma vez um trajecto muito bom, que só quem anda de moto consegue apreciar na sua plenitude. A chegada ao nosso destino de pernoita, foi sem estória de maior, o cansaço estava a instalava-se e só já queríamos estacionar as motos, tomar um bom banho e comer um belo jantar.
E assim foi, após consultar o Sr. Paulo, o proprietário do hotel, o restaurante escolhido foi a “Casa do Castelo”, mesmo de frente para o… castelo de Belmonte. O passeio até ao restaurante desta vez foi a pé, pois o nosso hotel, estava no centro da cidade. Percorremos um pouco as ruas do centro histórico, e as marcas de centenas de anos de judaísmo ainda hoje perduram, e fazem parte da cidade. Em museus, nomes de hotéis e restaurantes, bem como no turismo em geral. Outra faceta da história de Portugal também está bem presente nesta localidade, e por sinal bem promovida pela autarquia, o facto de Belmonte ser o berço de um dos grandes navegadores dos nossos descobrimentos, Pedro Álvares de Cabral. O panteão da família Cabral, uma estátua e o Museu dos Descobrimentos, tudo isso pode ser visitado em Belmonte.
Tínhamos mesa para as 21:30h, e assim que chegámos ao restaurante este revelou-se uma agradável surpresa. Decoração típica da Beira, em pedra de granito, e uma sala agradável. Após a consulta da ementa, diferentes pratos foram pedidos, “et voilá” a melhor refeição do passeio presenteava-se a nossa frente. A comida era excelente, o vinho da casa soberbo, e no fim, havia: pudim!! Que a senhora muito timidamente disse que tinha sido acabado de fazer, que até era para o dia seguinte, mas mal sabia ela que a “confraria do pudim” estava ali. E num ápice desapareceu o pudim do dia seguinte! Com muita boa disposição e uma simpatia “beirã”, no fim da refeição trouxe uma aguardente caseira para provarmos. E estava fantástica. Foi a melhor refeição do passeio, estávamos enturmados, a comida era muito boa, e nasceu a camaradagem de amigos que têm os mesmos gostos: motos, passear e comer bem.
Após a refeição, fomos tomar um café e um digestivo numa esplanada local. Mas não prolongamos a noite por muito tempo pois a idade, e os quilómetros já começavam a pesar! Caminho para o hote em ritmo de turismo nocturno onde aproveitámos para tirar mais umas fotos.
4º DIA (BELMONTE LISBOA)Acordei bastante cedo, cerca da 06:30h, com o barulho de trovoada na Serra da Estrela. Não conseguindo dormir, levantei-me e fui dar um passeio por Belmonte ao nascer do sol.
Como era domingo, os únicos sons aquela hora eram apenas os meus passos e as andorinhas, a percorrer as estreitas ruas da localidade. Foi uma experiência única, para fechar a estadia na cidade Beirã, que tão bem nos acolheu.
De regresso ao hotel, já alguns companheiros tomavam o pequeno-almoço. Começámos os preparativos para o regresso a casa e para fazer a última etapa, que nos ia levar à Serra da Malcata, Penamacor e Monsanto.
Dois companheiro, por motivos pessoais, tiveram de partir para Lisboa, directos de Belmonte, e foi com pena que nos despedimos deles. A irmandade ficou com 8 elementos apenas.
Motos carregadas e fizemo-nos à estrada, a Beira Baixa esperava-nos. A fazermos contas à gasolina lá fomos andando à procura de uma estrada que percorresse a Malcata, chegados à barragem de Meimão, descobrimos que o caminho que andávamos à procura estava interdito, a Serra da Malcata era reserva de protecção total, e como tal só a pé se podia entrar. Voltámos para trás e seguimos caminho para Penamacor. A torre estava em obras de restauro e conservação, completamente tapada por andaimes. E como era domingo, o castelo estava encerrado, ficámos uns minutos a apreciar a paisagem e a conversar um pouco. Resumimos caminho, não sem antes ir à procura de uma gasolineira. Seguimos caminho em direcção a Monsanto, por estradas secundárias e municipais. Passámos em localidades que não devem ter a visita de um grupo de motos muitas vezes. A alegria de algumas crianças quando passávamos era indescritível, criámos futuros motociclistas! Bem como a senhora que estava a preparar o almoço num fogareiro à beira da estrada, que já queria ir buscar o javali que tinha na cozinha, e fazer para todos. Só presenciando se tem a noção do bem estar, que andar de moto nos trás a nós e aos que connosco se cruzam.
A chegada a Monsanto foi sem sobressaltos, já o estacionar as motos numa rua com uma inclinação boa para fazer alpinismo, revelou-se uma tarefa digna de malabaristas. Mota para a frente, mota para trás, mota para baixo e para cima. No fim tudo ficou mais ou menos bem estacionado!
Como era hora de almoço lá fomos nós até a um restaurante no centro, resumindo o que poderia ter sido uma excelente refeição: a paisagem era bonita, a comida bem confeccionada, e o resto é preferível nem comentar. Alguma vez tínhamos de errar na escolha do local das nossas refeições!
Devido a termos estado mais de duas horas no restaurante, a decisão foi rumarmos a Lisboa, via A23 em Castelo Branco.
Seguimos caminho já com alguma nostalgia, era o nosso último trajecto em ritmo de “passeio” através de estradas nacionais.
Última paragem já na A23, na área de serviço de Castelo Branco. O ”Super” Mário, estava a ficar apertado de tempo, pois quando chegasse a Lisboa, era carregar a moto com as malas que tinha deixado em minha casa, e ainda tinha de ir para a Guarda, acrescentando mais 300km aos muitos já feitos nesse dia. Despedimo-nos por ali e seguimos até à capital em ritmo um pouco mais acelerado.
EPÍLOGOFoi um passeio inesquecível. Dez motociclistas, alguns sem se conhecerem, outros de países e culturas diferentes, a paixão que nos unia era a mesma, viajar e confraternizar. No fim, eramos amigos, companheiros, “confrades do pudim”. A frase: “se não tem pudim, então vamos embora!” irá estar sempre na nossa mente sempre que entrarmos num restaurante.
As paisagens deste pequeno país, mas de grande beleza são deslumbrantes, quer se vejam pela primeira vez quer já sejam conhecidas. O nosso património histórico está muito bem preservado, e isso traz turismo , que por sua vez traz dinheiro, que faz com que o património possa ser mantido, a receita é simples, mas perdemos muito tempo até a conseguirmos aplicar.
A estrada N222, é definitivamente uma das mais belas do mundo, e merece ser feita pelo menos uma vez, o Douro e os socalcos das vinhas e oliveiras, são de uma riqueza visual que não tem igual no mundo. É uma estrada, definitivamente, para ser feita de moto, só assim se tira partido das inúmeras curvas e recantos que nos esperam a cada quilómetro que passa.
Para o ano há mais? Talvez. A vontade existe, o tema foi falado. Falou-se nos Picos da Europa, nas Astúrias, em Espanha, é uma zona deslumbrante, com estradas de montanha de cortar a respiração, e é também uma região espanhola onde se come muito bem! Parece ter os ingredientes certos para uma visita deste grupo de amigos.
Até para o ano.