Boas,
aproveitei este fim de semana prolongado, e juntamente com quatro colegas de trabalho, realizámos uma viagem que já andava a ser adiada há muitos anos: o Chaves-Faro pela Nacional 2.
Foram 4 dias de sonho, com paisagens de cortar a respiração, muita comida e bebida da boa e gentes muito simpáticas de norte a sul, e curvas de chorar por mais. Se conhecerem alguém estrangeiro que queira ficar a conhecer o país em pouco tempo, é fazerem a N2!
Foi mais ou menos assim:
1º dia (Lisboa-Chave):
saimos de Lisboa por volta das 11h, na quinta-feira, com destino a Chaves, para ser uma etapa mais rápida e sem stresses de maior, fizemos pela A1, depois IP3 e em seguida A24. Muita chuvinha apanhamos nós, desde Leiria até Lamego foi "non-stop", mas faz parte, viagem de moto sem chuva até parece que falta alguma coisa!
Várias paragens para reabastecer as motos e o corpo. Recomendo a sandes de leitão em Penacova, mesmo na IP3, é caro mas vale a pena. Sem sobressaltos lá chegámos a Chaves por volta das 17:30, depois de curtirmos as curvas da A24 na zona de Lamego, e as paisagens do Douro.
Chaves é uma pequena cidade muito bonita e bem arranjadinha, o centro histórico é fantástico, a Ponte Romana "parece" nova. As pessoas super simpáticas. A comida é muito, muito boa. À noite bebemos uns copos nos bares locais e caminha.
- 2º dia (Chaves-Tondela):
Pequeno Almoço tomado no Hotel e arrancamos por volta das 10h, foto da praxe no marco 0:
Arrancamos com paragem prevista nas Pedras Salgadas, para ir visitar o Nature Park, vale a pena uma visita mais prolongada, fica para uma próxima:
Seguimos em direcção ao Douro, começando por Vila Pouca de Aguiar, Vila Real e Régua, onde paramos para um almoço ligeiro, pois o calor já apertava. Estrada de sonho, os socalcos das vinhas, o serpentear da estrada, as paisagens de outro mundo, as pequenas localidades que se avistavam nas encostas e vales, se não conhecem façam um favor a vocês mesmos e vão, vale muito a pena:
Depois de almoço, e estando nós ali, resolvemos fazer um pequeno desvio, e fazer a N222 até ao Pinhão, estrada fantástica, uma marginal que segue o rio Douro, são cerca de 20 Km para cada lado, vale bem a pena. Ainda conseguimos ver um dos barcos que fazem os passeios fluviais a descer nas comportas da barragem. Um espectáculo digno de se ver!
Voltamos à Regua e seguimos o nosso caminho até Lamego, para quem gosta de curvas, é só um dos percursos com muitas e para todos os gostos, sempre a subir.
Já na cidade que me viu nascer, paragem obrigatória no santuário da Sra. dos Remédios para esticar as pernas e vestir os impermeáveis, pois o tempo começou a fechar.
Daqui até Tondela, foi sempre a chover, fizemos toda aquela serra até Viseu sem grande história, excepto o estarmos a fazer o caminho inverso dos companheiros do Lés-a-Lés, era sempre giro cumprimentarmo-nos, e quebrava a monotonia de conduzir à chuva e ao frio que naquela zona se fazia sentir, chegamos a apanhar 10 graus.
Paragem nos arredores de Viseu para descansar e seguimos para Tondela, caminho esse que me trouxe muitas recordações das viagens de infância antes de haver IP3.
Dormida em Tondela, e mais uma excelente refeição, um bacalhau à lagareiro com batata a murro, mas servido em tacho de barro, acompanhado com muito tinto e boa disposição nossa, e dos donos da residencial que nos “mimaram” com várias iguarias!!
3º dia (Tondela-Torrão):
A etapa mais longa amanheceu com chuva, vestir fatos e arrancar, passagem em Santa Comba, e continuar para sul ao longo do Mondego. Barragem da Aguieira, Penacova, e viragem para Vila Nova de Poiares:
Continuar agora em direcção a Góis, mais uma etapa com as belas das curvas . Paragem para descansar e ouvir o rio correr.
De regresso à estrada e já a pensar no almoço, seguimos em direcção ao Pedrogão Grande, não sem antes passar na terra pai de todos nós
:
Almoço em Predogão, e passagem pela Barragem do Cabril, muito imponente a altura da mesma, das mais altas que já vi.
Seguiu-se a Sertã, e Vila de Rei, onde subimos ao Picoto da Melriça, Centro Geodésico de Portugal:
Paramos em seguida para um lanchinho de Tijeladas em Abrantes, e seguimos caminho. A paisagem começava-se a transformar lentamente e das estradas de serra com curvas e contra-curvas, começavam agora a abrirem-se as planícies ribatejanas, como que a preparar-nos para as retas a perder de vista do Alentejo. Passamos Ponte de Sor, Montargil, e Mora, onde um dos companheiros por motivos pessoais teve de nos abandonar, já só éramos quatro.
Paragem ao kilometro 500 para as fotos da praxe:
O dia começava a ficar curto, e ainda tínhamos muito kilometros para fazer. Confesso que por esta altura o cansaço estava a começar a fazer das suas, não só o físico mas também o mental. Cada kilometro parecia cada vez mais longo, a chegada a Montemor-o-Novo indicava que estávamos quase a chegar ao destino, o Alentejo começava a vislumbrar-se na fisionomia da estrada, as paisagens eram agora mais douradas e menos verdes. A certa altura um coelhito resolveu atravessar a estrada mesmo quando eu estava a meio da curva, sempre serviu para acordar, depois disso foi uma perdiz e uma cegonha, os deuses estava a falar comigo. Santiago do Escoural, Alcáçovas e finalmente o Torrão, já estava esgotado, eram cerca das 20h e estávamos a conduzir desde as 9h!
Alojamento espectacular, e mais um jantar de chorar por mais. A simpatia do Sr. Zé, dono do alojamento e do restaurante foi inexcedível, tendo mesmo arranjado um quarto extra, se não havia dois de nós que iam ter uma noite de “núpcias” numa cama de casal apertadinha LOL.
Depois do jantar e já descansados, ficamos a jogar cartas no bar da terra até às 2am. O dia seguinte ia ser mais simples e curto.
4º dia (Torrão-Faro-Lisboa):
Para não variar, chuvinha pela manhã, confesso que adormeci, e o meus companheiros foram porreiros e deixaram-me dormir, estávamos todos estourados. Quando fui ter com eles para o pequeno almoço vi que mais um tinha desistido e tinha regressado a Lisboa, restavam três “duros”.
Fizemo-nos à estrada pelas 10:30h, Odivelas, Ferreira do Alentejo, sem pressas, paragem para reabastecer em Ervidel:
Seguindo pachorrentamente para Aljustrel, Castro Verde, Almodôvar. Aqui começavam a aparecer as primeiras curvas, o Algarve estava a chegar, adeus ao Alentejo. As forças estavam a voltar com a excitação de o fim estar perto. Entrada na Serra do Caldeirão e mais um lote de curvas para lamber pneu até ao fim, a malta que anda de carro nunca irá compreender a satisfação que é fazer uma estrada daquelas, dá vontade de voltar para traz e repetir alguns troços.
O kilometro 700 antecipava o fim:
Passado São Brás de Alportel, Faro estava ao virar da esquina, e o sentimento de um sonho concretizado estava cada vez mais perto.
Se me tivessem tirado o capacete teriam visto um sorriso de orelha-a-orelha, o cansaço dos últimos dias como que desapareceu por magia assim que avistámos o tão almejado Marco 738.
Fizemos uma festa como se tivéssemos sido campeões, todos nós tínhamos a mesma ideia: sonho realizado.
Seguiu-se um almoço numa esplanada no centro de Faro, e por volta das 17h iniciamos o regresso a casa.
Tudo decorreu sem problemas, e o que ficou foi:
para o ano onde vamos?