A comitiva que integra o projecto “RUSSIA, THE WORLD’S LONGEST ROAD” concluiu a etapa entre Blagoveshchensk e Erofey Pavlovch, num percurso que totalizou os 989 km. Para registar no diário de bordo em letras “gordas” ficaram 400 km ao frio e à chuva, nalguns troços com a água a alagar por completo o piso – o que tornaria a condução dos viajantes mais difícil, demorada e perigosa. Depois dessa “desventura”, o derradeiro desafio do dia, foi descobrir um sítio para pernoitar…
Aqui fica o relato da etapa:
“Do outro lado do Amur avistamos os edifícios envidraçados de Heihe. Antes de partir visitamos o enorme mercado chinês, onde se vende tudo e mais aquilo, e fomos ao banco trocar rublos para os próximos dias pelas estradas siberianas.
Saímos da cidade para uma espécie de labirinto gigante de estradas refeitas, bom piso, novas mas sem indicações, com horizonte plano, circular e sem referências. O céu ameaçador depressa concretizou as promessas e começou a chover. Chuva e frio, durante quatrocentos quilómetros. A temperatura foi descendo até aos 6ºc. Nos períodos de chuva torrencial, a inundar o alcatrão impermeável, parecia que tínhamos motores fora de bordo em cada uma das motos, deixando ondas a abrir na estrada. À tarde parou de chover e o vento fresco gelou os fatos. A estrada continuava a cortar a direito pela taiga, sem nos permitir horizontes, e os quilómetros começaram a custar cada vez mais a passar.
Os frequentes troços em obras traziam cada vez mais ansiedade. As nuvens de pó ao longe eram uma espécie de alarme: camiões, degraus de alcatrão, montes de terra, sopa de alcatrão derretido entornado no caminho, trabalhadores indiferentes ao perigo do trânsito impaciente, pó espesso a tornar quase irreal toda aquela confusão. Dez, vinte ou quarenta quilómetros e alguns sobressaltos depois, e tudo voltariam ao normal.
A noite caiu antes do último troço de quarenta quilómetros imprevisíveis, e as coisas complicaram-se, mas não podíamos parar.
Foi um enorme problema para arranjar alojamento. Nesta parte da rota, que até três ou cinco anos era simplesmente uma pista com dois mil quilómetros de terra e lama, não existe nada. As poucas aldeias estão todas longe da estrada que agora surgiu, ao pé da linha do transiberiano que desde sempre e durante todo o ano lhes traz algum conforto e o salário ao final do mês. E os estrangeiros não são de confiança, não tiram os sapatos para entrarem em casa e podem ser um problema com a autoridade.
Acabamos por parar pelas 23h30 para dormirmos em Erofey Pavlovic, depois de uma árdua negociação do Slawoj com a senhora chefe da estação. Um quarto surpreendente, quente, uma casa de banho basicamente equipada com 1 toalha, restos de papel higiénico e um chuveiro a escorrer um fio de água morna, enquanto cá fora as BMW enregelaram com menos dois -2ºC durante a noite.”
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